quinta-feira, 25 de setembro de 2014

SACI-PERERÊ

Autor Lourenço Filho - 3ª edição.


Edições Melhoramento






- Dedé foi brincar na casa do vizinho
Naquele dia, ali estavam todos os priminhos.
Eram quatro lindas meninas e um menino.
- Eu sou a Tininha, disse a mais crescida.
- Eu sou a Maria Amélia, disse a segunda.
- E eu, a Naná, disse a menorzinha.
- E aquele menino? perguntou Dedé, apontando para o Evaristinho.
- Aquele? pois você não sabe? Aquele, disse a Tininha, é o nosso Saci-Pererê!
Evaristinho não se zangou com a brincadeira.
Pelo contrário, até achou muita graça.
E começou a saltar num pé só, como dizem que faz o Saci.
E, com uma cara muito engraçada, começou a pedir, como dizem que faz o Saci:
- Me dá o fogo! me dá o fogo! me dá o fogo!...
Todos riam, muito alegres, fingindo que estavam com medo do Evaristinho.
Todos não. A Dedé não estava entendendo nada.
- Saci-Pererê? que história é essa perguntou ela.
- Pois é mesmo uma história que os antigos contavam, explicou a Tininha.
- Uma história?...
- Sim. Diziam que nas matas morava um menino de uma perna só. Mesmo assim ele saltava muito depressa. E diziam que tinha sempre na cabeça um barretinho vermelho...
- Que coisa engraçada!... e o que fazia o Saci?

- Dizem que assobiava e corria atrás das pessoas, para lhes pedir fogo.
- Pedir fogo?... mas pedir fogo para quê?...
- Ah! isso agora é que eu não sei, disse a Tininha. Olhe quem sabe estas história inteirinha é a Tia Sabina.
- Tia Sabina? quem é agora essa Tia Sabina?
Tia Sabina era a velha criada da casa.
Saíram todos à procura dela.
- Tia Sabina, como é mesmo a história do Saci-Pererê? Perguntou a Maria Amélia.
- Hum! hum! não brinca não, minha filha. Agorinha mesmo bateu meio-dia. Saci também aparece no meio do dia. É só a gente falar muito nele...Cruz! Credo!...
Todos riram daquele receio da pobre Tia Sabina, já tão velhinha, tão velhinha.
- Saci não existe, Tia Sabina! disse a Maria Amélia.
-  Hum! hum! quem  sabe não existe mais neste tempo...Agora está tudo tão mudado! Não é mesmo?
E a boa Tia Sabina suspirou, decerto lembrando-se de seus tempos de menina.
- Mas antigamente existia, sim. Como é que não existia?... Até meu pai, uma vez encontrou  o Saci na estrada.Hum! hum! Cruz! Credo!
- Como foi? Como foi?... pediram todos.
-  Hum! hum!... Eu conto logo de tardinha, porque agora é meio-dia, e não presta falar nestas coisas, disse a Tia Sabina.
As meninas olharam umas para as outras, um pouco assustadas.
- Pois é! Nem no meio do dia, nem de noite. Não presta!...
A Dedé olhou para o Evaristinho, e viu que ele fazia a cara mais engraçada deste mundo.


Depois da merenda, Dedé lembrou o caso do Saci.
Tia Sabina estava escolhendo feijão, e sem parar o seu trabalho, foi então contando?
- Pois é! Naquele tempo, nhô pai trabalhava na fazenda.
Era de noite, e  nhô  pai vinha na estrada.
-  Hum! hum!...muito escuro, muito escuro!...
De repente, nhô pai ouviu um assobio fininho, fininho, que até doía nos ouvidos da gente...

- Seria deste jeito? disse o Evaristinho assobiando muito fininho.
- Decerto era assim mesmo. Fininho que até doía nos ouvidos...Então nhô pai espiou para trás. E viu um molecote, assinzinho, que pulava numa perna só.
Depois ele chegou perto do nhô pai. Mostrou um cachimbinho apagado e pediu fogo... Hum! hum!... pediu fogo, três vezes, assim:
- Me dá o fogo! me dá o fogo! me dá o fogo!...

E que fez seu pai?... perguntou a Dedé.
-  Hum! hum!...ele tirou o isqueiro da algibeira e deu para o Saci acender.
Mas não era isqueiro desses que se usam agora, não.
Era isqueiro de bater com um ferrinho numa pedra que dá faísca. Saía faísca e pegava numa isca de pano. Então se punha foguinho no cachimbo, e o cachimbo acendia.

- E o Saci acendeu o cachimbo?
-  Hum! hum!..isso nhô pai não contava, não. Porque quando ele viu que o molequinho tinha um barrete vermelho na cabeça...  Hum! hum!...
- Que é que ele fez, Tia Sabina?...
- Ele saiu correndo que nem um vento pela estrada! E quando chegou nem podia falar. Cruz! Credo!
Não sei se era cansado de correr, ou se era mesmo do medo que deu lá nele...Hum! hum!
- Mas estava tudo muito escuro, Tia Sabina? perguntou a Dedé.
- Sim, estava mesmo...
- Mas, Tia Sabina, se estava tão escuro, como é que seu pai viu que o barrete era vermelho e que o cachimbinho estava apagado?...
-  Hum! hum!..isso agora  é que também não sei, não...
As crianças olharam umas para as outras e seguraram a boca para não rir.
A verdade é que nenhuma delas podia acreditar no Saci-Pererê.
E todas faziam muito bem.
O Saci é uma simples história para divertir, nada mais...
Na casa do vizinho, o Saci que existe é o Evaristinho.
Mas esse não anda pelas matas, de noite, assustando ninguém.
Esse dorme cedo e é bem comportado...







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