Foi há muitos e muitos anos, num país distante. Um casal de velhos lenhadores morava numa palhoça perto de uma escura floresta.
Buscando sustento no penoso trabalho da mata, ganhavam tão pouco, que havia dias de jejum, pois nem uma côdea de pão restava para repartir em migalhas pelos sete afilhados órfãos, que tinham sob sua guarda. O pior é que estes eram ainda muito novos. O mais idoso contava apenas doze anos. Nenhum deles podia auxiliar os padrinhos, a não ser carregando pequenos feixes de lenha ou ocupando-se do asseio da casa, enquanto os velhos se dirigiam à floresta, para a sua tarefa de todos os dias.
O pobre casal vivia muito triste com aquelas privações, e mais ainda se afligia pelas sete crianças.
Que fazer?
O velho, cansado e doente, não via como remediar a difícil condição. Desesperava-se com o sofrimento da mulher e dos pequenos, sem esperança de melhores dias.
Os meses frios chegavam, e a miséria seria neles ainda maior.
Desanimado, uma idéia lhe vinha à cabeça, e era horrível...Então o velho se agitava, corria as trêmulas mãos pelos cabelos brancos, levantava-se, andava às tontas. E lágrimas de dor corriam-lhe pelas faces enrugadas, um soluço escapava-lhe do peito, sentia tão pequenino e dorido o coração...
Mas...era o remédio!
Uma tarde, chamou a mulher para um canto da cozinha, onde o fogão ardia assando as últimas batatas e, com voz sumida, contou-lhe o plano:
- Levaremos as crianças à floresta, como se fossemos lenhar e, quando estivermos próximo da casa do guarda-caça, lá as deixaremos, sem que elas percebam. Não saberão voltar e, com certeza, o guarda lhes dará pousada, tomando conta dos pobrezinhos...
Espantada, a mulher protestou contra esta idéia, que lhe pareceu horrível.
- Abandonar os afilhados na floresta, os meus queridos meninos, tão pequenos e inocente? Não! Não podia ser...
- Então prefere que morram à fome? Não vê que serão recolhidos pelo guarda ou algum caçador? Há sempre, pelo mundo, corações generosos!
- Mas...os lobos? Interrompeu a pobre mulher, numa pergunta aflita.
- Ora, os lobos! respondeu o velho. Antes que chegue a noite e os lobos apareçam, já os pequenos terão encontrado abrigo!
E tanto falou, tanto falou e explicou, que a mulher, enfim, se convenceu.
Os dois velhos pensavam que ninguém os ouvia. Mas o mais novo dos afilhados, um pequerrucho esperto como um serelepe, e tão pequeno que era chamado Polegar, já desconfiado com os ares tristes dos velhos, compreendeu que havia novidade. Tinha se escondido atrás de uma canastra de couro, e tudo ouviu, tintim por tintim.
Mal pareou a conversa, e os lenhadores, muito triste, choraram, e já o pequeno corria a avisar os irmão da sorte que os esperava.
Ficaram muito assustados, com lágrimas nos olhos, mas Polegar serenou-os:
- Deixem estar, que tudo se arranjará. Não ficaremos ao abandono!
Na manhã seguinte os lenhadores despertaram os meninos, bem cedinho, para irem à mata, lenhar...
O pequeno Polegar abeirou-se do riacho, que passava junto à cabana, e encheu as algibeiras de pedrinhas brancas, antes de partir,
Logo depois seguiam todos. Ele, que se deixara ficar atrás, ia jogando as pedrinhas para bem marcar o caminho por onde passavam.
Chegados ao mais sombrio da floresta, os meninos receberam ordem de apanhar gravetos e amarrá-los com cipó. Como se de nada soubessem, puseram-se a trabalhar, enquanto os padrinhos, dizendo que iam lenhar mais adiante, foram se afastando cautelosamente e voltaram à cabana.
Quando Polegar verificou que haviam sido desprezados, fez cada um dos irmãos tomar de um feixe; e todos puderam facilmente voltar, acompanhando as pedrinhas brancas que o esperto menino havia espalhado pelo caminho.
Muito se admiraram os velhos com isso, mas nada lhes disseram. Parecia até estavam arrependidos, alegrando-se em recebe-los são e salvos.
Mas a miséria não os deixava. Cada dia, novas aflições apareciam, pois as dificuldades cresciam.
Era mesmo preciso abandonarem aquelas sete crianças, deixando-as na floresta, entregues à sua sorte, apenas com a esperança de que alguém as encontrasse e as tomasse a seu cuidado.
Assim, combinou o casal levar de novo os rapazes, por outro caminho e largá-los em ponto mais distante, onde se perdessem.
Desta vez Polegar não teve tempo de catar pedrinhas. Como lhe restasse um pedaço de pão, for deixando migalhas por onde passava.
Outra vez abandonados na floresta, os meninos procuravam voltar, mas já não lhes foi possível dar com o caminha: as migalhas de pão tinham sido devoradas pelos passarinhos...
Começaram a chorar, cheios de medo. Só o Polegar não se abateu. Ao contrário, dando coragem e animando os irmãos, pôs-se a guiá-los no meio da mata, na esperança de encontrar salvação. Quanto mais procuravam os trilhos, mais entravam na mata e se perdiam.
Já a noite chegava, e ouviam-se os primeiros uivos dos lobos esfaimados, que deixavam as suas tocas para procurar comida.
Resolveram os meninos abrigar-se no alto de uma árvore.
Polegar foi o último a subir. Mas, como era pequenino, pode chegar até o galho mais alto, de onde talvez pudesse avistar alguma luz que os orientasse. Mas não via nada tudo era escuridão.
Mas a miséria não os deixava. Cada dia, novas aflições apareciam, pois as dificuldades cresciam.
Era mesmo preciso abandonarem aquelas sete crianças, deixando-as na floresta, entregues à sua sorte, apenas com a esperança de que alguém as encontrasse e as tomasse a seu cuidado.
Assim, combinou o casal levar de novo os rapazes, por outro caminho e largá-los em ponto mais distante, onde se perdessem.
Desta vez Polegar não teve tempo de catar pedrinhas. Como lhe restasse um pedaço de pão, for deixando migalhas por onde passava.
Outra vez abandonados na floresta, os meninos procuravam voltar, mas já não lhes foi possível dar com o caminha: as migalhas de pão tinham sido devoradas pelos passarinhos...
Começaram a chorar, cheios de medo. Só o Polegar não se abateu. Ao contrário, dando coragem e animando os irmãos, pôs-se a guiá-los no meio da mata, na esperança de encontrar salvação. Quanto mais procuravam os trilhos, mais entravam na mata e se perdiam.
Já a noite chegava, e ouviam-se os primeiros uivos dos lobos esfaimados, que deixavam as suas tocas para procurar comida.
Resolveram os meninos abrigar-se no alto de uma árvore.
Polegar foi o último a subir. Mas, como era pequenino, pode chegar até o galho mais alto, de onde talvez pudesse avistar alguma luz que os orientasse. Mas não via nada tudo era escuridão.
***
Os uivos dos lobos eram agora mais repetidos e prolongados. E, os meninos, cheios de medo, julgavam ver por entre as ramagens, lá embaixo, os olhos ameaçadores das feras...
Polegar tranquilizava-os dizendo: "São os vaga-lumes, que passeiam..."
De repente, ao longe, brilhou uma luzinha avermelhada.
Era, sem dúvida, o rancho de um lenhador.
- Talvez a nossa casinha, suspirou Polegar, com alívio.
Calcularam os pequenos que, para lá chegar, teriam de vencer um quilometro.
- Aviem-se! Vamos! Com certeza encontraremos agasalho por esta noite, que está fria, e nos livraremos dos malvados lobos, que andam a farejar por aqui!
A custo desceram todos e, bem unidinhos, guiados pelo pequeno Polegar, calados e sustendo a respiração, foram caminhado cautelosamente por entre as grandes árvores no rumo da luz distante.
Que caminhada difícil! Cansados, esfaimados, tiritantes de frio, machucando os pés nas pedras e espinhos, se não fosse a energia do Polegar, ter-se-iam ficado ali, entregues ao perigo que os rodeava.
Quando um uivo mais prolongado se ouvia, Polegar acalmava os irmãos, dizendo:
- Não tenham medo! É o vento que esta assobiando...
Assim foram seguindo, sempre devagar, uns agarrados aos outros, o Polegar à frente, disposto a vencer qualquer obstáculo.
O estalar da floresta, sacudida pelo vento, misturava-se ao grito das feras.
Ao fim de quase uma hora de tão penosa marcha, chegaram à cabana cuja luz tinham visto antes.
Estava toda fechada, mas, pelas frinchas da porta, enxergaram uma velhinha que preparava comida.
Subia de um enorme caldeirão a fumegar um cheiro apetitoso de caldo, um cheiro bom de sopa de carne e legumes.
Foi Polegar quem, corajosamente, bateu à porta; pan...pan...pan...
- Quem é? Perguntou a velhinha, admirada.
- Somos os seus netinhos! respondeu Polegar. Viemos pedir-lhe proteção...
- Ora essa! Não tenho netos! Mas, pela voz, percebo que são crianças, e de crianças nada posso temer. Esperem um pouquinho, vou por a manta de lã, que a noite esta gelada e não quero resfriar-me.
Daí a minutos a porta se abriu e a velhinha recolheu as sete crianças, muito se admirando com as minúsculas proporções do Polegar, que lhe pareceu mais um bonequinho encantado do que gente de carne e osso...
- Venham, venham, meus netinhos, disse-lhes ela com ternura. Terei muito prazer em protegê-los, mas quero, primeiro saber como e por que vieram a este lugar tão perigoso.
O Pequeno Polegar contou, do melhor modo, o que lhe acontecera e a seus irmãos, comovendo até às lágrimas a velhinha.
Mas esta avisou-os em voz baixa, como se receasse alguém:
- Não por mim, que não faço mal - mas pelo dono desta casa, vieram bater a má porta!
E explicou-lhes que era apenas a criada de um gigante muito mau, cruel como um lobo e o maior comedor de crianças de que havia notícias.
- Vejam onde vieram ter!
Desta vez Polegar sentiu que as pernas tremiam. Seus irmãos empalideceram de medo.
Mas, voltando a ter coragem, Polegar perguntou:
- E o gigante está aqui?
- Felizmente saiu, mas não tardará a chegar...
- E como havemos de fazer?
- Vamos ver o que é possível, mas primeiro acheguem-se ao fogo e tomem um caldo.
Foi buscar pratos e colheres. Serviu a todos.
Aquecidas e alimentadas, as pobres crianças sentiram-se mais calmas.
Entretanto, a velha continuou:
É preciso escondê-los do gigante, porque, se ele os perceber aqui, estão perdidos! E fiquem muito quietinhos até o raiar da madrugada. Então, eu lhes darei fuga pela porta do quintal. Tratem de afastar-se o mais depressa possível!
Ficaram ao pé do fogo, em silêncio, para que não se distraíssem à aproximação do gigante.
- Quando ele vem chegando, dizia em segredo a velha, o chão todo treme, os galhos das árvores estalam, os bichos do mato correm com medo...
Não tardou muito e o chão entrou a tremer.
Ouvindo-se um barulho ao longe, que foi aumentando depois.
- É ele que aí vem, com suas botas de sete léguas, exclamou a velha, tremendo.
As pobres crianças chegaram para junto dela, pedindo que as protegesse.
Mais que depressa a velha conduziu-as a um quarto escuro, onde as escondeu debaixo de uma larga cama.
E ali ficaram os orfãozinhos, de olhos vivos e ouvidos atentos, com o coração aos pulos.
- Como poderá um gigante acolher-se a uma casinha como esta? perguntava a si mesmo o Polegar.
Ele não sabia que o gigante era encantado e possuía alguns poderes extraordinários.
Curioso, valendo-se de seu tamanho, Polegar saiu dos esconderijo e foi oculta-se no vão de uma porta, para ver o mostro.
Nesse momento ele chegava. Era um homem horrendo, barbudo, de cabelos grossos como cordas. Mas a sua altura diminuía a olhos vistos à medida que ia entrando meio abaixado. E ficou depois do tamanho de um homem comum.
Sentou-se junto ao fogo, descalçou as enormes botas, farejou ruidosamente de todos os lados e pediu o jantar.
A velhinha trouxe o caldeirão, uma grande colher, e o gigante pôs-e a devorar a sopa. Depois pediu carne. Veio um cabrito inteiro, que desapareceu em poucos instantes. Pediu vinho e esvaziou alguns garrafões. Exigiu mais vinho e bebeu a fartar.
- E o leitão assado?
Veio um leitão, que sumiu inteiro no goela do mostro.
Insaciável, continuava a farejar, as narinas dilatadas, os olhos esgazeados, a dentuça em arreganhos, qual um tigre.
De repente, vozeirou, trovejante:
- Aqui me cheira carne humana! Carne de criança! Onde está este petisco? Tenho fome! Vamos ver a carne humana!
- Deve ser a novilha que reservei para o almoça de amanhã, disse a velhinha.
- Não me enganas, ó velha mentirosa!
E ergueu-se, dando grandes passadas, a farejar por todos os cantos. E assim caminhou para a porta do quarto...
Polegar, assustado, correu para debaixo da cama. Mas a grande mão do gigante o pegou.
- Será um camundongo? perguntou.
Descobertos, os pobres meninos estavam, com certeza, irremediavelmente perdidos.
Mas a velhinha interveio:
- É uma surpresa que eu queria fazer para o senhor! Reservei-os para a ceia de amanhã. Encontrei-os perdidos na floresta, enganei-os, trouxe-os e aí estão para o meu senhor!
- Pois bem! concordou o gigante; quero-os mal assados, com molho de pimenta...Amarra-os para que não escapem! Mas...espera...deixa ver!
Apalpou os meninos, um por um, fez uma careta e gritou:
- É melhor esperar uns dias: estão muito magrinhos! Engorda-os bem, dá-lhes do bom e do melhor.
E se foi deitar-se. Daí a pouco, rncava como um leão.
A velha, que também se recolhera, tratou de salvar as crianças, logo ao perceber que o gigante dormia a sono solto.
Correu ao aposento dos filhos do mostro - exatamente sete filhos - que estavam há muito dormindo numa larga cama. Eram feios e desajeitados como o pai.
A velhinha transportou-os a todos, com muito cuidado para o quarto onde estavam recolhidos Polegar e seus irmãos, deitando-os na cama que estes ocupavam. Com os mesmos cuidados, pois receava despertar o gigante, conduziu os órfãos para o leito dos filhos do monstro, recomendando-lhes o maior silêncio. Com essa providencia procurava salvar os pequenos abandonados, pois era bem possível que, na calada da noite, o desalmado quisesse devorá-los. Bem conhecia o seu apetite!
Rara a madrugada em que o gigante não se levantava para saciar a fome. E comia o que encontrasse.
O gigante roncou pelo espaço de algumas horas, abarrotado. Lá pelas tantas, digerida a farta ceia, o mostro despertou, de novo esfomeado. Veio-lhe à mente o bom petisco: as sete crianças, a saborosa carne tenra dos pequeninos...
Comprimiu o ventre e sentiu o estômago vazio. A fome o torturava.
- Estão magrinhos, é bem verdade, mas, com este apetite, nem os ossos hão de escapar!
Pegou um facão e foi afiá-lo numa pedra no quintal.
Fiape...fiape...fiape...
Aquele barulhinho era de arrepiar os nervos...
Mas o nosso Polegar estava tranquilo e até risonho, embora os irmãos a ele se agarrassem, cheio de susto.
Afinal, o barulho parou. As passadas do gigante soaram de novo: pan...pan...pan...
Os pequerruchos esconderam-se. O gigante rumou para o comodo onde tinham eles estado até pouco antes, certo de que ali os encontraria.
Abeirou-se na cama, no escuro, foi tateando, ergueu sete vezes o pesado cutelo para decepara sete cabeças - degolando os próprios filhos!
E pôs-se a sorver, com sofreguidão, o sangue que jorrava...
Nesse tempo, a velha, que tinha dormido, encaminhara-se para o quarto dos órfãos, ordenando-lhes que saíssem de mansinho. Assim fizeram e todos, juntos com a boa mulher, abandonaram aquela morada, porque a vingança do mostro seria tremenda.
Vinha raiando o dia. Guiados por sua protetora, puderam os meninos, por caminhos certos, afastar-se rapidamente, distanciando bastante. Mas os meninos não estavam livres do perigo. O gigante, assim que desse pelo engano, haveria de persegui-los calçando as botas de sete léguas.
Foi o que realmente sucedeu. Quando a manhã surgiu e a cabana clareou, o mostro reconheceu os corpos dos filhos.
Tomado de louco furor, calçou as botas e pôs-se a correr pela mata.
Vendo-se perseguidos, a velha e as crianças conseguiram ocultar-se ao fundo de uma caverna.
Eis que chega o gigante, bufando de cansaço, abatido pelo que lhe sucedera. Deixou-se cair ali mesmo, extenuado, para adormecer profundamente.
Então a velha e Polegar, ajudados pelos meninos, apoderaram-se do facão e lhe cortaram a cabeça.
Tinham salvado o país de seu maior perigo.
O grande tesouro que o mostro acumulara ficou em poder de Polegar, seus irmãos e a velhinha.
Combinara, então, distribuir parte pelos pobres, restituir a seus donos o que lhe fora roubado e fazer muita caridade. Os sete meninos voltaram com seus padrinhos, que estavam arrependidos e choravam sua falta. Puderam, assim, viver felizes, abençoados por todos.
Rara a madrugada em que o gigante não se levantava para saciar a fome. E comia o que encontrasse.
O gigante roncou pelo espaço de algumas horas, abarrotado. Lá pelas tantas, digerida a farta ceia, o mostro despertou, de novo esfomeado. Veio-lhe à mente o bom petisco: as sete crianças, a saborosa carne tenra dos pequeninos...
Comprimiu o ventre e sentiu o estômago vazio. A fome o torturava.
- Estão magrinhos, é bem verdade, mas, com este apetite, nem os ossos hão de escapar!
Pegou um facão e foi afiá-lo numa pedra no quintal.
Fiape...fiape...fiape...
Aquele barulhinho era de arrepiar os nervos...
Mas o nosso Polegar estava tranquilo e até risonho, embora os irmãos a ele se agarrassem, cheio de susto.
Afinal, o barulho parou. As passadas do gigante soaram de novo: pan...pan...pan...
Os pequerruchos esconderam-se. O gigante rumou para o comodo onde tinham eles estado até pouco antes, certo de que ali os encontraria.
Abeirou-se na cama, no escuro, foi tateando, ergueu sete vezes o pesado cutelo para decepara sete cabeças - degolando os próprios filhos!
E pôs-se a sorver, com sofreguidão, o sangue que jorrava...
Nesse tempo, a velha, que tinha dormido, encaminhara-se para o quarto dos órfãos, ordenando-lhes que saíssem de mansinho. Assim fizeram e todos, juntos com a boa mulher, abandonaram aquela morada, porque a vingança do mostro seria tremenda.
Vinha raiando o dia. Guiados por sua protetora, puderam os meninos, por caminhos certos, afastar-se rapidamente, distanciando bastante. Mas os meninos não estavam livres do perigo. O gigante, assim que desse pelo engano, haveria de persegui-los calçando as botas de sete léguas.
Foi o que realmente sucedeu. Quando a manhã surgiu e a cabana clareou, o mostro reconheceu os corpos dos filhos.
Tomado de louco furor, calçou as botas e pôs-se a correr pela mata.
Vendo-se perseguidos, a velha e as crianças conseguiram ocultar-se ao fundo de uma caverna.
Eis que chega o gigante, bufando de cansaço, abatido pelo que lhe sucedera. Deixou-se cair ali mesmo, extenuado, para adormecer profundamente.
Então a velha e Polegar, ajudados pelos meninos, apoderaram-se do facão e lhe cortaram a cabeça.
Tinham salvado o país de seu maior perigo.
O grande tesouro que o mostro acumulara ficou em poder de Polegar, seus irmãos e a velhinha.
Combinara, então, distribuir parte pelos pobres, restituir a seus donos o que lhe fora roubado e fazer muita caridade. Os sete meninos voltaram com seus padrinhos, que estavam arrependidos e choravam sua falta. Puderam, assim, viver felizes, abençoados por todos.
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