Autor: Renato Sêneca Fleury.
Segundo o site www.iecc.com.br: "Renato Sêneca Fleury (1895-1980) diplomou-se em 1912. É autor de Na roça: cartilha rural para alfabetização rápida, publicada em 1935, pela Editora Melhoramentos, tendo alcançado 133 edições, até a última, de 1958."
Joanico, Juquinha e Maneco eram bons meninos, filhos de um pobre sapateiro, honrado e trabalhador.
O pai não se descuidou da educação de nenhum deles: estiveram na escola, aprenderam a ler, escrever e contar, a ser justos e serviçais. Por sua vez, o pai ensinou-lhes o que pode e conseguiu, mandando-os a oficinas da vila onde moravam, que aprendesse cada qual um ofício.
Joanico era carpinteiro; Juquinha era ferrador e Maneco aprendeu o ofício de seleiro.
Como eram bons filhos, não queriam ser pesados aos pais, já velhos e cansados de tanto trabalhar.
Pensaram, por isso, em pedir um dia a benção a seus pais e correr o mundo, para ganharem a vida.
Queriam fazer economias e voltar para casa com o dinheiro necessário para o sustento dos pais.
O primeiro a tentar fortuna foi o mais velho, o Joanico.
Despediu-se da mãe, que estava chorando, e do pai que lhe deu coragem.
Na curva do caminho, olhou para trás e lá viu, à porta da casa, os pais e os dois irmãos, sacudindo as mãos, a lhe dizerem adeus.
Respondeu agitando no ar o chapéu, e seguiu com coragem.
Foi pedindo emprego por toda parte. Ninguém precisava de carpinteiro.
Estava já meio desanimado, mas não queria voltar. Saíra para ganhar a vida no seu ofício de carpinteiro, e era preciso que assim fosse.
Seguiu por uma estrada que passava pelo meio de uma extensa floresta.
Lá muito adiante encontrou-se com uma velhinha e resolveu perguntar-lhe se não sabia de alguém que precisasse dos serviços de um carpinteiro.
- Carpinteiro? repetiu a mulher, alegremente. E acrescentou; - Pois eu ia até à vila próxima, justamente à procura de um carpinteiro. Estou precisando de uma casa de madeira e até agora não achei um para fazê-la. Foi Deus que nos permitiu esse feliz encontro.
Joanico seguiu a velhinha até o lugar onde ela morava lá ficou durante alguns meses, pois era só ele, a trabalhar, e tinha de fazer tudo, até mesmo cortar madeira no mato.
Quando a casinha ficou pronta, a velha, muito satisfeita, disse ao carpinteiro.
- Gostei de ti e teu trabalho muito me satisfez. Vou, por isso, recompensar-te generosamente.
Ficou o rapaz muito alegre, esperando algumas belas moedas de ouro.
Em vez disso, porém, a velha lhe deu de presente uma pequena mesa, antiga e feia, que não valia 20 centavos.
Muito desapontado com aquela paga, Joanico baixou a cabeça, sem coragem de exigir da velha um pagamento maior.
A velhinha ria-se e o rapaz começou a achar que aquilo era desaforo. Construir uma casa em troco daquela mesinha? Que logro!
- Logro? Não senhor! Dizeis isto porque não sabes que esta mesa vale uma fortuna.
E para demostrar o que afirmava, a velha deu três pancadas numa das pernas do móvel e este logo se encheu misteriosamente de assados, bolinhos, frutas e doces.
Maravilhado com aquilo, Joanico fartou-se das melhores iguarias e muito agradeceu à boa velha tamanha generosidade.
Quando quisesse almoçar, jantar ou cear era só bater as três pancadas...
Que fortuna!
Poderia voltar para junto dos seus. Por pouco que ganhasse lá na sua vila natal, de que já sentia fundas saudades, estaria bem, pois tinha o meio de obter fartas e esplendidas refeições diárias para toda a família.
Carregando a mesinha, pôs-se de regresso e, durante a viagem, almoçou, jantou e ceou à vontade.
Um noite pousou numa hospedaria, mas é claro que só pediu cama. Onde encontraria melhores manjares do que aqueles que a mesinha mágica lhes fornecia?
O dono da hospedaria estranhou duas coisas: que o menino tivesse feito questão de levar a mesinha para o dormitório, quando poderia ter sido guardada a um canto da sala de refeições; e que não tivesse pedido de comer, justamente ao chegar de viagem, a pé, carregando o móvel à cabeça, cansado e já tarde... Como poderia estar sem fome?
Homem curioso, mal o rapaz se fechou no quarto que lhe tinha sido indicado, já começava a espiar pelo buraco da fechadura.
E viu perfeitamente aquela coisa esquisita: o menino bater três pancadas numa perna da mesinha e esta imediatamente cobrir-se de finos manjares, frutas, doces, vinhos, refrescos...
Admirado, tratou de ficar com a mesinha mágica. Para ele, seria uma coisa de valor inestimável, pois teria as refeições para os hóspedes, das mais fartas e sem gastar 20 centavos!
Aproveitou-se do momento em que o rapaz saiu para dar uma volta, e trocou a mesinha por uma outra muito parecida.
Joanico não deu pela troca e, na manhã seguinte, continuou o seu caminho, carregando a mesa.
Quando chegou à sua casa, todos ficaram satisfeitos de revê-lo; e, sabendo que a mesinha era encantada, mais alegres se mostraram.
O despontamento de Joanico, porém, foi enorme, e sua tristeza sem limites, quando, ao querer mostrar o valor do pequeno e modesto móvel, nada conseguiu.
Só então notou certas diferenças na mesa e viu que tinha sido roubado pelo dono da hospedaria.
Como, porém, poderia provar o fato e exigir de volta o precioso móvel?
Por sua vez, o dono da hospedaria se viu num grande desapontamento, porque, em seu poder, à custa de um procedimento criminoso, a mesinha perdeu as qualidades extraordinárias.
Juquinha resolveu, então, sair pelo mundo, a tentar a sorte. Talvez fosse mais feliz do que o irmão.
Despediu-se dos pais, dos irmãos e lá se foi pelo mesmo caminho, oferecendo seus préstimos de ferrador a quantos encontrava a cuidar ou trabalhar com cavalgaduras.
Ninguém precisava dos serviços de um ferrador.
Sem desanimar, tomou pela estrada que cortavam a floresta e encontrou lá adiante a mesma velha.
De nada suspeitando, perguntou-lhe se não sabia de alguém que precisasse dos seus serviços.
- Ferrador? Então tu és um ferrador? Ora, sim senhor! Pois eu ia justamente à vila, à procura de um, para ferrar o meu burrinho, que já quase não pode andar por causa dos cascos estragados de tanto gastá-los nas pedras dos caminhos.
Juquinha seguiu a velha até o lugar onde ela morava, e lá ferrou as quatro patas do burrinho e de outros animais que a velha lhe trouxe dos pastos em redor. Cavalos, jumentos, burros, em grande número, foram ferrados pelo hábil menino. O serviço durou vários dias.
Quando chegou a ocasião de receber o pagamento de seu trabalho, Juquinha, em vez de moedas, que esperava, teve de aceitar um burrinho magro e feio, que a velha lhe trouxe, não se sabe de onde.
O caso é que o rapaz nunca o tinha visto no meio de outros animais.
Juquinha achou que aquilo não estava direito, mas não adiantava nada protestar. Seria melhor receber o burrinho, de cara alegre. Talvez pudesse vendê-lo por qualquer coisa ao dono de alguma estrebaria.
Foi então que a velha, notando o desgosto do rapaz, lhe disse:
- Pensas que este burrinho nada vale, não é assim? Pois estás muito enganado. E, abrindo a boca do animal, fez cair ao chão algumas moedas de prata.
Era um burrinho mágico.
Juquinha, espantado e ao mesmo tempo alegre, agradeceu muito, enquanto a velha explicava que aquele fato, jamais visto, poderia ser repetido, a intervalos de uma hora, até dez vezes por dia. De casa vez, dez moedas; cem moedas de prata por dia! Mas o menino deveria tratar muito bem do animal, que, entretanto, sempre se conservaria magro e feio. Se o maltratasse, ele perderia tão inestimável qualidade.
Juquinha estava de posse de uma verdadeira fábrica de dinheiro!
- Agora, sim, dizia ele, poderei tomar conta dos meus velhos pais, dando-lhes todo o conforto; ajudarei meus irmãos a se estabelecerem com bem montadas oficinas; e poderei socorrer os necessitados.
Lá se foi o Juquinha de volta para sua vila natal.
Ao passar pela hospedaria onde o Joanico pousara por uma noite, mas sem saber que era a mesma, ajuntou com o seu dono, pouso num bom quarto e lugar reservado na estrebaria para o burrinho, ordenando que dessem ao animal o melhor passadio.
- Um pobretão desse, com tantos luxos! pensou o homem. Aqui deve haver coisas...
Tratou de espreitar e viu o rapaz tirar moedas de prata da boca do burrinho.
Ora, havia justamente ali um burrinho muito parecido com aquele. Fácil foi ao homem fazer a troca.
Quando, no dia seguinte, Juquinha deixou a hospedaria, não deu pela substituição.
Recebido na casa paterna com grande alegria dos pais e irmãos, contou-lhe como aquele burrinho, que todos acharam tão magro e feio, era uma preciosidade.
Qual não foi, porém, a sua tristeza quando este lhe aplicou um par de coices?
Só então deu pelo caso, mas não havia remédio.
Entretanto, de seu lado, o dono da hospedaria também teve uma grande decepção: o burrinho não lhe deu sequer uma moedinha de 20 centavos!
Obtido graças a uma ação má, perdera sua extraordinária qualidade.
Coube ao irmão mais novo, o Maneco, sair à procura de trabalho. Queria também tentar fortuna.
Ia correr o mundo. Talvez fosse mais feliz do que os irmãos.
Despediu-se dos seus e lá se foi pelo caminho que os dois primeiros haviam tomado.
Oferecia os serviços de seleiro a quantos encontrava. Ninguém tinha necessidade de um seleiro.
Não desanimou e foi ter à mesma estrada, que cortava a floresta.
Tudo se passou mais ou menos do mesmo modo como se dera com seus irmãos. Encontrou a velha e sem suspeitar de quem se tratava, perguntou-lhe se não sabia onde ele poderia arranjar trabalho, como seleiro.
- Seleiro? Tu és seleiro? Pois nem de propósito, meu bom rapaz! Eu ia justamente à vila, à procura de um, para consertar os velhos arreios de meu cavalo e fazer alguns novos.
O rapaz seguiu a velha até o lugar onde ela morava e logo começou a trabalhar nos arreios: rédeas, barrigueiras, tirantes, cabrestos, selins, etc.
Havia muito que fazer e Maneco trabalhou durante semanas e semanas, tudo muito bem feito.
Quando acabou as encomendas, a velha disse que estava muito satisfeita e por isso ia pagar generosamente aqueles serviços.
Mas em vez de dinheiro, o Maneco teve de receber em paga, dentro de um caixote, um pequeno cacete.
Ficou muito aborrecido, mas o que havia de fazer?
A velha, notando a tristeza do rapaz, disse-lhe:
- Que juízo fazes deste cacete? Pensas que é um pedacinho de pau como outro qualquer! Pois muito te enganas! Queres ver?
E alisando o cacete três vezes e apontando para um burro deitado pouco adiante, fez o cacetinho ir rapidamente até o pobre quadrúpede e bater-lhe sem dó.
Era um cacete mágico.
- Com ele poderás te defender de teus inimigos e de quantos queriam fazer-te mal.
Maneco, aceitando alegremente o cacetinho, agradeceu e se pôs a caminho, de regresso à casa paterna. Estava com saudades dos seus pais e irmãos.
Aconteceu passar pela mesma hospedaria e viu perfeitamente a mesinha e o burrinho, que tinham pertencido a seus irmãos.
Resolveu, pois transportar a mesa e conduzir o bicho para casa. Quem sabe se tornariam ao que eram?
Com bons modos, Maneco procurou convencer o mau homem de que deveria entregar-lhe a mesa e o burro.
O estalajadeiro se negou a isso e até ameaçou de dar uma boa surra no rapaz.
Foi então que ele alisou três vezes o cacete e indicou o estalajadeiro...
Na mesma hora o cacetinho voou para as costas do homem e começou a surrá-lo com tanta energia que o homem não teve outro remédio senão entregar a Maneco a mesa e o burro.
Muito contente, o rapaz disse um adeus ao dono da hospedaria e se pôs de novo a caminho.
Foi recebido pelos pais e irmãos com grande alegria.
E como a mesa e o burro readquiriram seus poderes mágicos, tiveram na mesma hora uma excelente ceia e dez moedas de prata.
O cacetinho era o guarda casa!
Mandaram dar um bom jantar aos pobres da vila e com eles repartiram o dinheiro.
Desde então viveram muito felizes, tendo o que era preciso e fazendo caridade.
Respondeu agitando no ar o chapéu, e seguiu com coragem.
Foi pedindo emprego por toda parte. Ninguém precisava de carpinteiro.
Estava já meio desanimado, mas não queria voltar. Saíra para ganhar a vida no seu ofício de carpinteiro, e era preciso que assim fosse.
Seguiu por uma estrada que passava pelo meio de uma extensa floresta.
Lá muito adiante encontrou-se com uma velhinha e resolveu perguntar-lhe se não sabia de alguém que precisasse dos serviços de um carpinteiro.
- Carpinteiro? repetiu a mulher, alegremente. E acrescentou; - Pois eu ia até à vila próxima, justamente à procura de um carpinteiro. Estou precisando de uma casa de madeira e até agora não achei um para fazê-la. Foi Deus que nos permitiu esse feliz encontro.
Joanico seguiu a velhinha até o lugar onde ela morava lá ficou durante alguns meses, pois era só ele, a trabalhar, e tinha de fazer tudo, até mesmo cortar madeira no mato.
Quando a casinha ficou pronta, a velha, muito satisfeita, disse ao carpinteiro.
- Gostei de ti e teu trabalho muito me satisfez. Vou, por isso, recompensar-te generosamente.
Ficou o rapaz muito alegre, esperando algumas belas moedas de ouro.
Em vez disso, porém, a velha lhe deu de presente uma pequena mesa, antiga e feia, que não valia 20 centavos.
Muito desapontado com aquela paga, Joanico baixou a cabeça, sem coragem de exigir da velha um pagamento maior.
A velhinha ria-se e o rapaz começou a achar que aquilo era desaforo. Construir uma casa em troco daquela mesinha? Que logro!
- Logro? Não senhor! Dizeis isto porque não sabes que esta mesa vale uma fortuna.
E para demostrar o que afirmava, a velha deu três pancadas numa das pernas do móvel e este logo se encheu misteriosamente de assados, bolinhos, frutas e doces.
Maravilhado com aquilo, Joanico fartou-se das melhores iguarias e muito agradeceu à boa velha tamanha generosidade.
Quando quisesse almoçar, jantar ou cear era só bater as três pancadas...
Que fortuna!
Poderia voltar para junto dos seus. Por pouco que ganhasse lá na sua vila natal, de que já sentia fundas saudades, estaria bem, pois tinha o meio de obter fartas e esplendidas refeições diárias para toda a família.
Carregando a mesinha, pôs-se de regresso e, durante a viagem, almoçou, jantou e ceou à vontade.
Um noite pousou numa hospedaria, mas é claro que só pediu cama. Onde encontraria melhores manjares do que aqueles que a mesinha mágica lhes fornecia?
O dono da hospedaria estranhou duas coisas: que o menino tivesse feito questão de levar a mesinha para o dormitório, quando poderia ter sido guardada a um canto da sala de refeições; e que não tivesse pedido de comer, justamente ao chegar de viagem, a pé, carregando o móvel à cabeça, cansado e já tarde... Como poderia estar sem fome?
Homem curioso, mal o rapaz se fechou no quarto que lhe tinha sido indicado, já começava a espiar pelo buraco da fechadura.
E viu perfeitamente aquela coisa esquisita: o menino bater três pancadas numa perna da mesinha e esta imediatamente cobrir-se de finos manjares, frutas, doces, vinhos, refrescos...
Admirado, tratou de ficar com a mesinha mágica. Para ele, seria uma coisa de valor inestimável, pois teria as refeições para os hóspedes, das mais fartas e sem gastar 20 centavos!
Aproveitou-se do momento em que o rapaz saiu para dar uma volta, e trocou a mesinha por uma outra muito parecida.
Joanico não deu pela troca e, na manhã seguinte, continuou o seu caminho, carregando a mesa.
Quando chegou à sua casa, todos ficaram satisfeitos de revê-lo; e, sabendo que a mesinha era encantada, mais alegres se mostraram.
O despontamento de Joanico, porém, foi enorme, e sua tristeza sem limites, quando, ao querer mostrar o valor do pequeno e modesto móvel, nada conseguiu.
Só então notou certas diferenças na mesa e viu que tinha sido roubado pelo dono da hospedaria.
Como, porém, poderia provar o fato e exigir de volta o precioso móvel?
Por sua vez, o dono da hospedaria se viu num grande desapontamento, porque, em seu poder, à custa de um procedimento criminoso, a mesinha perdeu as qualidades extraordinárias.
Juquinha resolveu, então, sair pelo mundo, a tentar a sorte. Talvez fosse mais feliz do que o irmão.
Despediu-se dos pais, dos irmãos e lá se foi pelo mesmo caminho, oferecendo seus préstimos de ferrador a quantos encontrava a cuidar ou trabalhar com cavalgaduras.
Ninguém precisava dos serviços de um ferrador.
Sem desanimar, tomou pela estrada que cortavam a floresta e encontrou lá adiante a mesma velha.
De nada suspeitando, perguntou-lhe se não sabia de alguém que precisasse dos seus serviços.
- Ferrador? Então tu és um ferrador? Ora, sim senhor! Pois eu ia justamente à vila, à procura de um, para ferrar o meu burrinho, que já quase não pode andar por causa dos cascos estragados de tanto gastá-los nas pedras dos caminhos.
Juquinha seguiu a velha até o lugar onde ela morava, e lá ferrou as quatro patas do burrinho e de outros animais que a velha lhe trouxe dos pastos em redor. Cavalos, jumentos, burros, em grande número, foram ferrados pelo hábil menino. O serviço durou vários dias.
Quando chegou a ocasião de receber o pagamento de seu trabalho, Juquinha, em vez de moedas, que esperava, teve de aceitar um burrinho magro e feio, que a velha lhe trouxe, não se sabe de onde.
O caso é que o rapaz nunca o tinha visto no meio de outros animais.
Juquinha achou que aquilo não estava direito, mas não adiantava nada protestar. Seria melhor receber o burrinho, de cara alegre. Talvez pudesse vendê-lo por qualquer coisa ao dono de alguma estrebaria.
Foi então que a velha, notando o desgosto do rapaz, lhe disse:
- Pensas que este burrinho nada vale, não é assim? Pois estás muito enganado. E, abrindo a boca do animal, fez cair ao chão algumas moedas de prata.
Era um burrinho mágico.
Juquinha, espantado e ao mesmo tempo alegre, agradeceu muito, enquanto a velha explicava que aquele fato, jamais visto, poderia ser repetido, a intervalos de uma hora, até dez vezes por dia. De casa vez, dez moedas; cem moedas de prata por dia! Mas o menino deveria tratar muito bem do animal, que, entretanto, sempre se conservaria magro e feio. Se o maltratasse, ele perderia tão inestimável qualidade.
Juquinha estava de posse de uma verdadeira fábrica de dinheiro!
- Agora, sim, dizia ele, poderei tomar conta dos meus velhos pais, dando-lhes todo o conforto; ajudarei meus irmãos a se estabelecerem com bem montadas oficinas; e poderei socorrer os necessitados.
Lá se foi o Juquinha de volta para sua vila natal.
Ao passar pela hospedaria onde o Joanico pousara por uma noite, mas sem saber que era a mesma, ajuntou com o seu dono, pouso num bom quarto e lugar reservado na estrebaria para o burrinho, ordenando que dessem ao animal o melhor passadio.
- Um pobretão desse, com tantos luxos! pensou o homem. Aqui deve haver coisas...
Tratou de espreitar e viu o rapaz tirar moedas de prata da boca do burrinho.
Ora, havia justamente ali um burrinho muito parecido com aquele. Fácil foi ao homem fazer a troca.
Quando, no dia seguinte, Juquinha deixou a hospedaria, não deu pela substituição.
Recebido na casa paterna com grande alegria dos pais e irmãos, contou-lhe como aquele burrinho, que todos acharam tão magro e feio, era uma preciosidade.
Qual não foi, porém, a sua tristeza quando este lhe aplicou um par de coices?
Só então deu pelo caso, mas não havia remédio.
Entretanto, de seu lado, o dono da hospedaria também teve uma grande decepção: o burrinho não lhe deu sequer uma moedinha de 20 centavos!
Obtido graças a uma ação má, perdera sua extraordinária qualidade.
Coube ao irmão mais novo, o Maneco, sair à procura de trabalho. Queria também tentar fortuna.
Ia correr o mundo. Talvez fosse mais feliz do que os irmãos.
Despediu-se dos seus e lá se foi pelo caminho que os dois primeiros haviam tomado.
Oferecia os serviços de seleiro a quantos encontrava. Ninguém tinha necessidade de um seleiro.
Não desanimou e foi ter à mesma estrada, que cortava a floresta.
Tudo se passou mais ou menos do mesmo modo como se dera com seus irmãos. Encontrou a velha e sem suspeitar de quem se tratava, perguntou-lhe se não sabia onde ele poderia arranjar trabalho, como seleiro.
- Seleiro? Tu és seleiro? Pois nem de propósito, meu bom rapaz! Eu ia justamente à vila, à procura de um, para consertar os velhos arreios de meu cavalo e fazer alguns novos.
O rapaz seguiu a velha até o lugar onde ela morava e logo começou a trabalhar nos arreios: rédeas, barrigueiras, tirantes, cabrestos, selins, etc.
Havia muito que fazer e Maneco trabalhou durante semanas e semanas, tudo muito bem feito.
Quando acabou as encomendas, a velha disse que estava muito satisfeita e por isso ia pagar generosamente aqueles serviços.
Mas em vez de dinheiro, o Maneco teve de receber em paga, dentro de um caixote, um pequeno cacete.
Ficou muito aborrecido, mas o que havia de fazer?
A velha, notando a tristeza do rapaz, disse-lhe:
- Que juízo fazes deste cacete? Pensas que é um pedacinho de pau como outro qualquer! Pois muito te enganas! Queres ver?
E alisando o cacete três vezes e apontando para um burro deitado pouco adiante, fez o cacetinho ir rapidamente até o pobre quadrúpede e bater-lhe sem dó.
Era um cacete mágico.
- Com ele poderás te defender de teus inimigos e de quantos queriam fazer-te mal.
Maneco, aceitando alegremente o cacetinho, agradeceu e se pôs a caminho, de regresso à casa paterna. Estava com saudades dos seus pais e irmãos.
Aconteceu passar pela mesma hospedaria e viu perfeitamente a mesinha e o burrinho, que tinham pertencido a seus irmãos.
Resolveu, pois transportar a mesa e conduzir o bicho para casa. Quem sabe se tornariam ao que eram?
Com bons modos, Maneco procurou convencer o mau homem de que deveria entregar-lhe a mesa e o burro.
O estalajadeiro se negou a isso e até ameaçou de dar uma boa surra no rapaz.
Foi então que ele alisou três vezes o cacete e indicou o estalajadeiro...
Na mesma hora o cacetinho voou para as costas do homem e começou a surrá-lo com tanta energia que o homem não teve outro remédio senão entregar a Maneco a mesa e o burro.
Muito contente, o rapaz disse um adeus ao dono da hospedaria e se pôs de novo a caminho.
Foi recebido pelos pais e irmãos com grande alegria.
E como a mesa e o burro readquiriram seus poderes mágicos, tiveram na mesma hora uma excelente ceia e dez moedas de prata.
O cacetinho era o guarda casa!
Mandaram dar um bom jantar aos pobres da vila e com eles repartiram o dinheiro.
Desde então viveram muito felizes, tendo o que era preciso e fazendo caridade.
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